No doce revirar dos teus olhos pálidos
Sussurro à tua essência.
Que chama é esta que me consome?
Não me conheço.
És aquilo que um dia eu desenhei em papel
No mais doce revirar da tua pele.
Que chama é esta, feita carroussel?
Não me conheço.
Eu sou feita de tudo aquilo que dói:
Sou aquilo que eu mesma desenhei no papel
Que chama é esta, que dor fria e cruel?
Não me conheço.
«Não sou santo nem pecador», disse ele.
Talvez tenha sido eu mesma a dizê-lo,
Enquanto o cigarro derretia, à espera
Que eu me conhecesse.
Reviro-me, por fim, e olho para mim num espanto
Não há nada para além daquilo que o espelho me conta
Não há chama, os monstros já não moram lá.
Reconheço-me na dor de me conhecer.
***
Ana Silvestre
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