abril 21, 2013
Olhares que são nossos
Nos teus olhos, amor, eu vejo os meus. Belos, quentes, teus, que já são nossos sem tu quereres. O que nasceu para ser, será - e nada é mais profundo do que o teu olhar sobre o meu, que é meu, e tão teu que se torna somente nosso.
Apagam-se as luzes, desse candeeiro chato que teima em iluminar-nos quando leio um livro de amor, e tu vês passar o tempo, com o cachimbo na mão. Espero ver-te, num sorriso rasgado, louco, arranhado de beleza, e mesmo assim, de olhos esbugalhados de ternura, sorrisos feitos de mel.
O tempo passa, espero. Nada ficou, daquele candeeiro que nos acendeu a vida e aqueceu a alma. Já não estás aqui, pelos menos não te vejo... Fugis-te, amor meu? Que resta dos longos minutos de espera, daqueles quentes abraços, repletos de um olhar que é teu - meu -, nosso? Olha-me, com calma.
Olha-me hoje, olha-me amanhã, olha-me sempre, se não for cliché de miúda. A juventude passou por mim, estendeu-me a mão, pediu-me um abraço... nem a vi. Nunca quis ver a juventude de bons olhos, porque os meus bons olhos são os teus olhos, os nossos olhos. Olhos que já são velhos, que já contam histórias, que revelam segredos, que espalham magia, de luz acesa enquanto leio um livro de amor.
Talvez esses olhos esbugalhados, já tivessem chorado demasiado ou só tivessem penetrado tantas almas que a minha fosse só uma parte suja da tua clareza de espírito. Sabes... os artistas nunca sabem o que dizem, nem sabem porque dizem, e quando dizem... Não mentem, dizem-no com olhos de quem observa, como uma flor, o processo que absorve da luz de candeeiro qualquer.
Beija-me, amor meu, com esses olhos que são teus,meus,nossos.
***
Ana Silvestre
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário