Cogito

Sonhos... Quem não os tem? De que é feita uma pessoa, se ela não possuir vivências que lhe despertem sonhos? Que corpo poderá, eventualmente, viver nesta terra sem espírito, sem sonho? Será que a parte física é tão mais valiosa do que a parte mental, ao ponto de a população se esquecer de como é bom imaginar, pensar e... sonhar? O mundo foi feito por homens fortes e bravos, capazes de enfrentar, de derrubar, de superar. Mas, de que vale sermos tão fortes e destemidos, se não possuimos a força interior suficiente para aquecermos a alma com a força de vontade que, a bem dizer, é capaz de mover montanhas?

Arte de sonhar: "fantasiar; devanear; Ter ideia fixa; Cuidar em.;Pensar com insistência em."

Sonho em ser sempre fiel a mim mesma, ser socialmente aceite pelos meus colegas, ser carinhosa, aconchegada pelo meu namorado sempre que chorar, sonho não falhar com aqueles que amo, sonho ser tudo, sonho ser nada, mas sonho ser o que não sou: sonho ser livre de poder concretizar os meus sonhos. Quem sonha, consegue, e quem consegue... foi porque sonhou algum dia consegui-lo. Dizem que a fé em Deus é o a fórmula para conferirmos à nossa vida um suplemento essencial - a força de concretizar os nossos sonhos -, contudo, esse suplemento essencial está intimamente ligado às nossas vivências, às pessoas com quem partilhamos relações e intimidade, ao país onde vivemos, ao sítio onde estudamos e, também, aos bens materiais que possuimos e que nos deixam possuir. Foi Deus que me pôs este computador na mão e me fez, à algum tempo atrás, tomar iniciativa para escrever os meus textos e os meus poemas e sonhar um dia poder vir a ser uma jornalista? De que forma poderei eu, ciente dos meus esforços e das minhas capacidades, entregar-me fielmente a um Deus - que nunca vi, ouvi, nem senti -, sem ponderar que este suplemento essencial vem de dentro de mim: do meu ser, da minha força interior, e, sobretudo, do meu pensamento. "Penso, logo existo"... Já dizia Descartes - um senhor que provou ao Mundo que até um racionalista fiel pode, no seu pensamento, confundir-se com um idealista nato -, naquela que foi a sua grande primeira verdade universal.

Se Deus existe? Quem me diz que não? Quem me diz que sim? Quem me diz que, toda a sua formosa forma não foi conretizada no pensamento de um geração para outra, como um mito que, aparentemente, encaixa perfeitamente no nosso sentido lógico mas que, porém, é visivelmente falso? Quem pensa, imagina, logo: cria imagens, pessoas, abrigos como ombros amigos, cria aconchegos e cria uma tal veneração a algo/alguém que se torna, inevitavelmente, uma justificação para os tempos, para as vontades, para as acções erradas cometidas num momento de loucura que é justificável somente porque Deus compreende e aceita, e porque, na sua grandeza infindável, aceita. Quem pede respeito, pede sinceridade: e esse sempre será o dilema de aceitar o outro tal e qual como ele vem ao Mundo para ser.

Sonha...
***
Ana Silvestre