fevereiro 22, 2013

Sophia de Mello Breyner Andresen



Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu a 6 de Novembro de 1919, no Porto e faleceu a 2 de Julho de 2004, em Lisboa, sendo considerada uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX.
Viveu em Lisboa, onde tirou o curso de Filologia Clássica na Universidade de Lisboa (1936-1939), foi dirigente de movimentos universitários católicos. Tornou-se uma das figuras mais representativas de uma atitude política liberal ao apoiar o movimento monárquico e ao denunciar o regime salazarista e os seus seguidores.       Casou-se em 1946 com o jornalista, político e advogado Francisco Sousa Tavares e foi mãe de cinco filhos que a motivaram a escrever contos infantis e, por isso, é encarada como uma das mais importantes escritoras e poetisas de livros para crianças da Literatura Portuguesa.
     Sophia de Mello Breyner Andresen escreveu obras poéticas, de ficção, contos, contos infantis, de teatro e ensaios.

Poema:

«Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos 
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos – se ninguém atraiçoasse – proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
Na concha na flor no homem e no fruto 
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo»


Tema: Idealização de um mundo justo
Assunto: Este poema relata a idealização do eu lírico sobre um mundo onde todos juntos contribuíssem  para a preservação da natureza e não para a sua degradação, como está explícito no verso seis, em que o sujeito poético retrata um mundo que tem sido, constantemente, atraiçoado e, consequentemente tem-se vindo a destruir a liberdade e o reino da “terra onde estamos”; o Homem tem cometido inúmeras injustiças, nomeadamente com a Natureza, sendo ela a principal vítima desta desumanidade. O sujeito poético diz que a única forma de expressar a sua revolta é na escrita onde no último dístico, afirma tentar reconstruir o mundo, declarando ser o seu “oficio”, ou seja, a sua contribuição para um mundo justo foi o facto de ter escrito este poema e deixar-nos a pensar o que poderemos fazer para que este mundo idealizado possa ser real.

Análise Interna: Este poema é constituído por uma estrofe irregular de treze versos e um dístico que serve de conclusão.

Recursos expressivos: Temos presente a dupla adjetivação em: “As cidades poderiam ser claras e lavadas”, a personificação em: “O céu o mar e a terra estão prontos, A saciar a nossa fome do terrestre” e a metáfora em: “De uma cidade humana…”

Características gerais: Sophia de Mello Breyner apresenta-nos uma poesia de grande fidelidade à realidade do mundo, onde procura a ordem e o equilíbrio do universo. Criou uma literatura de empenhamento social e político, de compromisso com o seu tempo e de denúncia das injustiças e da opressão. Na sua poesia conserva e reforça continuamente uma relação privilegiada com o mar, com o vento, com o sol e a luz e com Terra. Através dos sentidos, capta as várias sensações da natureza. A natureza é um espaço de eleição, onde o Eu lírico se reencontra com a sua beleza plena, fugindo da cidade, onde persistem a acomular-se todos os "males do mundo". Segundo a poetisa, as cidades são espaços negativos, de conflitos e desencontros. Sophia Anderson procura, acima de tudo, a transparência de um universo organizado, daí a reconstrução da aliança entre os homens, e o facto da natureza ser um tema constante na sua obra.  


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Ana Silvestre

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