fevereiro 14, 2013

Análise de «Ao Gás», C. Verde



Este resumo foi apenas um suporte para entregar à minha professora no âmbito da disciplina de Literatura Portuguesa, sendo que a totalidade do meu trabalho encontra-se em formato powerpoint, com o suplemento de uma folha auxiliar que não se encontra suficientemente explicita para mostrar aqui.

 «Ao Gás» é o terceiro momento do poema «O Sentimento dum Ocidental», de Cesário Verde. O primeiro momento é «Ave-Maria», o segundo «Noite Fechada» e o quarto «Horas Mortas».

Análise Temática do poema -
Temática principal:
Binómio Cidade/Campo. Este excerto constitui uma espécie de síntese de alguns dos temas fundamentais da poesia de Cesário Verde, como sendo a questão da humilhação (sentimental, estética, social), a preocupação com as injustiças sociais e o sentimento anti burguês. Para além da variedade de figuras femininas presentes, as outras "personagens" ora são um meio de o poeta expressar a sua solidariedade pelos excluídos, ora um meio de concretizar a pintura da cidade, que aqui aparece como símbolo de dor, sofrimento, solidão, até de algo que lhe vence (“Mas tudo cansa!”). Por oposição, surge, implicitamente, uma ténue alusão ao campo, modelo de saúde, vida, força - "Um cheiro salutar e honesto a pão no forno".
             O sujeito poético evidencia a hipocrisia de certos comportamentos sociais e religiosos para mostrar que a burguesia é tão miserável como as “impuras” que se arrastam pelas ruas da cidade. A comparação torna-se mais evidente quando o narrador realça o trabalho honesto daqueles que vivem a vida a trabalhar mas que a cidade aprisiona.

Espaço:
Este poema desenvolve-se com o deambular do sujeito poético nas ruas da cidade.
“Passeios de lajedo", “Moles hospitais”, "as embocaduras" que libertam um “sopro que arrepia os ombros quase nus”, sugerindo um ambiente negro e de frio que afecta os pobres mal vestidos e doentes (1º estrofe); “Cercam-me as lojas tépidas" (2ºestrofe); “O chão minado pelos canos” (3ºestrofe); Referência a uma fábrica de cutelaria a funcionar e uma padaria (4ºestrofe); “Casas de confecções e modas” (5ºestrofe); Loja de luxo, com balcões de mogno, onde se vendem xales com debuxo (7ºestrofe); Lojas da moda, onde clientes e caixeiros interagem no acto comercial, desdobrando tecidos estrangeiros (9ºestrofe); As esquinas, onde pede esmola o velho professor de latim (11ºestrofe).

Tempo: Num determinado período do dia, a noite - "A noite pesa, esmaga”.

Personagens:
- As burguesinhas do catolicismo (seres desprezíveis, insignificantes, que se deslizam pelo chão dos canos). O sujeito poético compara as freiras de antigamente com as burguesinhas do catolicismo. A mulher como sinédoque social.
- Pessoa lúbrica, comparada a uma cobra, espartilhada, magnética a atrair o luxo.
- A velha, de bandós, de vestido com traine (acrescento farto e longo, a arrastar pelo chão), e os mecklemburgueses.
- O homenzinho idoso que exclama "Dó da miséria!...Compaixão de mim!...", e nas esquinas pede esmola, é o velho professor de latim do Poeta.
- As impuras que se arrastam nos passeios de lajedo. Os pobres andrajosos e doentes, que são afectados pelo sopro saído das embocaduras.
- Personagens imaginadas: santos em capelas, com círios, andores, ramos, velas. Fiéis frequentadores da catedral de comprimento imenso.
- Um forjador de avental e os padeiros no fabrico do pão.
- As modistas das casas de confecções e modas. O ratoneiro imberbe (uma criança delinquente) que olha pelas vitrinas das casas de confecções e modas.
- Um cauteleiro regouga, solitário.

O Sujeito Poético: Ao longo deste poema, o sujeito poético aborda a cidade num tom de desencanto, de melancolia, numa perspectiva de humilhação e frustração, como se sentisse derrotado pela vida artificial e desumana que é a cidade. Todo o poema se estrutura em torno dessa realidade (a cidade), que acaba por ser negativa, porque o tom do sujeito poético é de clara mágoa.
Na 1ºestrofe, o sujeito poético sente desconforto com o ambiente de riso e jogo. É abatido pelo sentimento de peso e esmagamento provocado pela noite. Sensibiliza-se com o sofrimento no interior dos hospitais e com os pobres mal vestidos e doentes, expostos às correntes de ar.
Na 2ºestrofe, o sujeito poético sente-se cerrado. Este revela consciência de que as lojas tépidas que o cercam se assemelham a uma catedral de comprimento imenso, ou seja, uma das origens do cerco que o afecta vem do lado religioso, outra vem do lado do desequilíbrio social.
Na 3ºestrofe, o sujeito poético sensibiliza-se com a sorte das burguesinhas do catolicismo, comparando a sua dependência aos deveres do seu tempo (submissão à casa, devotas e beatas, educadas para o piano e as boas maneiras, sem vontade própria…) com a das freiras do antigamente (sujeitas aos jejuns e às crises de histerismo).
Na 4ºestrofe, mostra apreciar as coisas autênticas e salutares da vida (o trabalho do forjador, o fabrico do pão).
Na 5ºestrofe, revela a sua intenção de intervir na sociedade: fantasia escrever um livro que exacerbe, que cause impacto. Mostra pouca simpatia pelas casas de confecções e modas, devido ao que elas representam no antro de contradições que é a cidade.
Na 6º estrofe, o sujeito poético demostra a sua insatisfação perante as ruas da cidade, que não pode descrever com versos salubres nem magistrais, pois estas ruas são melancólicas e associadas ao terror.
 Na 7ºestrofe, revela rispidez perante os que, apoiados pela sorte, são atraídos pelo luxo e pela futilidade.
Na 8ºestrofe, contrapõe a ostentação e o luxo à desgraça e à miséria (através da velha de bandós e dos mecklemburgueses que a acompanham).
Na 9ºestrofe, mostra não concordar com o comportamento dos clientes das lojas da moda.
Na 10ºestrofe, “Mas tudo cansa!”, o sujeito poético diz sentir-se cansado de toda aquela loucura que é a cidade e dá atenção aos mais fracos, neste caso ao cauteleiro, que regouga, rouco, solitário.
Na última estrofe, o sujeito poético mostra compaixão pelos desfavorecidos, no caso concreto do seu velho professor de latim, e repulsa pelo desprezo a que, simbolicamente, foram deitados os valores culturais do país.

Análise Formal
Esquema Rimático: ABBA/CDDC/EFFE/GHHG/IJJI/KLLK/MNNM/OPPO/QRRQ/STTS/UVVU
Tipos de Rima: Interpoladas
Métrica: Hendecassilábico (Irregular)
Contém 11 Quadras

Figuras de Estilo
Apóstrofe “Ó moles hospitais! Sai das embocaduras”, v. 3
Enumeração “Com santos e fiéis, andores, ramos, velas”, v.7
Ironia “Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses.”, V.32
Sinestesia “Um cheiro salutar e honesto a pão no forno”, v.16, “moles hospitais”, v.3 e “lojas tépidas” v. 5
Tripla adjectivação “Com versos magistrais, salubres e sinceros”, v. 22;
Metáfora “Que grande cobra, a lúbrica pessoa”, v. 25
Dupla adjectivação “E nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso”, v. 42,
Estrangeirismo “Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe”, v. 20;

 ***
Ana Silvestre

26 comentários:

  1. obrigado... esta analise ajudou muito.

    ResponderEliminar
  2. De nada! Para além desta, tenho aqui muitas mais que lhe poderam ser úteis. Visite-me mais vezes! Beijinho.

    ResponderEliminar
  3. Adoro esse pircing faz um na cona tambem #XD

    ResponderEliminar
  4. Vai po caralho puta... mau conteúdo! Faltam muitas coisas! ������

    ResponderEliminar
  5. obrigado, safaste-me duma que nem imaginas ahahha, depois mando a nota do trabalho <3

    ResponderEliminar
  6. Muito bom conteúdo! Amei, foi muito útil para o meu trabalho! Continua com o excelente trabalho!

    ResponderEliminar
  7. Tem certeza sobre os hendecassílabos? Me parece que são onze estrofes de um decassílabo seguido de três dodecassílabos alexandrinos.

    ResponderEliminar
  8. Vendo carros usados qualquer dúvida é só contactar este número: 925 097 669

    ResponderEliminar