Suportas nas asas as cores do mundo, borboleta. Se
tu consegues tão bem passar pela vida a brilhar de cor e vivacidade, se és pequena e tão frágil e vives tão pouco tempo, porque é que eu (que devo-te
assustar mais do que nenhum dos animais que encaras todos os dias) não
consigo suportar as lágrimas falsas que me lavam a cara e os sopros inseguros que me
sustentam, mesmo que tenha a oportunidade de viver mais 50 anos? Será que uma pequena vida bem vivida vale mais do que uma longa vida de sofrimento e dor? Pânico, frustração... Tu sentes isso, borboleta?
Porque é que mesmo ao pousar a medo, pousas sempre? E a tua vida limita-se a um toque mais forte, a um impulso mais rápido. E tu continuas, a voar, mesmo que isso possa ser a causa da tua prematura morte...Tu pensas, borboleta? Pensas em querer baixar as asas, como eu penso em baixar os braços? E o facto de poderes, a qualquer momento, transformar-te em pó e seres apenas um resto de nada, isso ilude-te ao ponto de quereres viver intensamente num curto espaço de tempo, temendo somente aquilo que não fores capaz de realizar?
Porque é que mesmo ao pousar a medo, pousas sempre? E a tua vida limita-se a um toque mais forte, a um impulso mais rápido. E tu continuas, a voar, mesmo que isso possa ser a causa da tua prematura morte...Tu pensas, borboleta? Pensas em querer baixar as asas, como eu penso em baixar os braços? E o facto de poderes, a qualquer momento, transformar-te em pó e seres apenas um resto de nada, isso ilude-te ao ponto de quereres viver intensamente num curto espaço de tempo, temendo somente aquilo que não fores capaz de realizar?
No final, somos todos borboletas. Só que ainda não sabemos, ainda não nos foi dito por ti. Ninguém nos mostrou como é bom suportar as cores do mundo e saber que morrer, pode ser hoje ou até mesmo amanhã. Até podemos morrer agora, mas morremos com as cores do mundo, com a alegria da nação, com uma legião de pessoas que cuidam de nós, envolvem-nos, imortalizam-nos.
Não digas que a vida não te sorri, não sejas só mais um a esconder o rosto do que é verdadeiramente belo de se reparar. Não te esqueças que tal como borboletas livres e frageis, também tu podes assentar onde te sentires bem, onde fores aceite e onde, principalmente, te sentires capaz Capaz de não ver, mas de reparar. Capaz de não tocar, mas de sentir tudo por completo. Abstrai-te de posses ou de bens materiais, e começa a apreender sensações, impressões, emoções, capacidades. Tu és bom naquilo que fazes, e mesmo que sintas que saibas que não fazes nada... Tu fazes sempre algo de bom. Um ladrão, por mais obsceno e incapaz que pareça, é bom a roubar pessoas. Um assassino, homem cruel e sem noção, é bom a matar pessoas, a magoá-las. Embora irracional e demente, eles fazem algo, como todos nós fazemos neste mundo. Suporta as cores do Mundo, não suportes o Mundo porque, apesar dos medos e inquietações, tu és deste Mundo e o Mundo é a tua cor, não é assim, borboleta?
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Ana Silvestre
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