fevereiro 23, 2013

Crítica Fernão Lopes



(É de referir que  nem tudo o que publico neste blogue é da minha autoria, sendo que quando é, assino sempre por baixo como prova de exclusividade)*

 

FERNÃO LOPES
NARRATIVA HISTÓRICA

TEXTOS CRÍTICOS

«Fernão Lopes pertence a uma época que se caracteriza precisamente pelo realismo abun­dante dos pormenores. Nota-se nele uma curiosidade ávida de conhecer como as coisas se passa­ram (...) A esta preocupação de minúcia descritiva, sabiamente agenciada em função do seu valor expressivo, se devem os grandes quadros de Fernão Lopes: os motins da arraia-miúda, 0 cerco de Lisboa, as festas do Porto. Nada aí está de mais, e tudo converge para dar vida ao quadro. (...)
O empenho supremo da arte de Fernão Lopes é fazer-nos presenciar a cena, vê-la como ele próprio a via. A característica fundamental da arte lopeana é o seu poderoso visualismo. (...) o que coloca Fernão Lopes fora de toda a comparação na nossa literatura e talvez em todas as lite­raturas é o modo como ele dá vida às multidões alvoroçadas.»
Rodrigues Lapa,
Lições de Literatura Portuguesa


«Como Guarda-mor da Torre do Tombo, Fernão Lopes tinha ao seu alcance os arquivos do Estado, circunstância de que soube utilizar-se, transcrevendo, resumindo e aproveitando a correspondência diplomática, as disposições legais, os capítulos das Cortes, e outra documentação, que enriqueceu ainda examinando fora da Torre do Tombo os cartórios das igrejas e lápides de sepultu­ras. Com este material foi-lhe possível fazer a crítica e a correcção das memórias existentes, segundo um método que antecipa o de dois a três séculos mais tarde. Sempre que uma tradição ou uma memória é desmentida pelos documentos, Fernão Lopes rejeita-a; e avançando neste caminho, acaba por submeter a uma revisão metódica todos os relatos que lhe chegavam às mãos, notando as suas contradições e inverosimilhanças e decidindo-se, à falta de documento, pela versão que julga «mais chegada à razão». Até hoje não foi possível abalar, em nada de importância, a solidez desta obra sob o ponto de vista documental, e as polémicas que se travaram sobre o valor histórico de Fernão Lopes, quando acusado de denegrir a figura de D. Pedro ou de caluniar os inimigos de D. João I, nomeadamente D. Leonor Teles, só têm levado a confirmar a constante preocupação do cronista em se estribar em documentos autênticos, mesmo quando os não cita.
O primeiro cronista português pode, assim, ser chamado também com justiça o primeiro, em data, dos historiadores portugueses, isto é, o primeiro que, não se limitando a compilar, vai investi­gar os factos nas suas fontes documentais e submete a tradição a uma análise crítica.»

                                                                                                                                                                 António J. Saraiva e Óscar Lopes

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