(É de referir que nem tudo o que publico neste blogue é da minha autoria, sendo que quando é, assino sempre por baixo como prova de exclusividade)*
FERNÃO LOPES
NARRATIVA HISTÓRICA
TEXTOS
CRÍTICOS
«Fernão Lopes
pertence a uma época que se caracteriza precisamente pelo realismo abundante
dos pormenores. Nota-se nele uma curiosidade ávida de conhecer como as coisas
se passaram (...) A esta preocupação de minúcia descritiva, sabiamente
agenciada em função do seu valor expressivo, se devem os grandes quadros de
Fernão Lopes: os motins da arraia-miúda, 0 cerco de Lisboa, as festas do Porto.
Nada aí está de mais, e tudo converge para dar vida ao quadro. (...)
O empenho supremo da
arte de Fernão Lopes é fazer-nos presenciar a cena, vê-la como ele próprio a
via. A característica fundamental da arte lopeana é o seu poderoso visualismo.
(...) o que coloca Fernão Lopes fora de toda a comparação na nossa literatura e
talvez em todas as literaturas é o modo como ele dá vida às multidões alvoroçadas.»
Rodrigues
Lapa,
Lições
de Literatura Portuguesa
«Como Guarda-mor da
Torre do Tombo, Fernão Lopes tinha ao seu alcance os arquivos do Estado,
circunstância de que soube utilizar-se, transcrevendo, resumindo e aproveitando
a correspondência diplomática, as disposições legais, os capítulos das Cortes,
e outra documentação, que enriqueceu ainda examinando fora da Torre do Tombo os
cartórios das igrejas e lápides de sepulturas. Com este material foi-lhe possível
fazer a crítica e a correcção das memórias existentes, segundo um método que
antecipa o de dois a três séculos mais tarde. Sempre que uma tradição ou uma
memória é desmentida pelos documentos, Fernão Lopes rejeita-a; e avançando
neste caminho, acaba por submeter a uma revisão metódica todos os relatos que lhe
chegavam às mãos, notando as suas contradições e inverosimilhanças e
decidindo-se, à falta de documento, pela versão que julga «mais chegada à razão».
Até hoje não foi possível abalar, em nada de importância, a solidez desta obra
sob o ponto de vista documental, e as polémicas que se travaram sobre o valor histórico
de Fernão Lopes, quando acusado de denegrir a figura de D. Pedro ou de caluniar
os inimigos de D. João I, nomeadamente D. Leonor Teles, só têm levado a confirmar
a constante preocupação do cronista em se estribar em documentos autênticos,
mesmo quando os não cita.
O primeiro cronista português
pode, assim, ser chamado também com justiça o primeiro, em data, dos historiadores
portugueses, isto é, o primeiro que, não se limitando a compilar, vai investigar
os factos nas suas fontes documentais e submete a tradição a uma análise crítica.»
***
Sem comentários:
Enviar um comentário