julho 11, 2014

Oportunidade para Amar



Eu não pedi que ele me ouvisse, pedi apenas que reparasse naquilo que eu nunca disse. No pormenor mais simples, no olhar que teima em concentrar-se nele, naquele sorriso que me escapa inevitavelmente dos lábios como se ele fosse a única razão neste Mundo que me deixasse feliz. Eu pedi, sim, que ele fosse atencioso o suficiente para escutar o meu coração, sem ter que ouvir as minhas palavras. Pedi que me recusasse quase inteiramente, para sentir depois, de forma plena, a falta dos meus carinhos, e então desejar outra vez, com mais força, a minha presença no seu mundo. Pedi-lhe um minuto, para ele pensar em mim e na nossa relação. Depois, achei-me no direito de lhe pedir mais uma hora, ou mais um dia. Quando dei por mim, estava a pedir-lhe uma vida, e ele estava cada vez mais a afastar-se de mim. No entanto, achei que lhe pedi tão pouco, sabes? Que por mais esforços que fizesse, que por mais que lutasse, nunca seria o ideal para mim, porque eu queria sempre mais. Entrei na sua vida e, com medo que me obrigasse a sair dela, exigi-lhe algo que nunca deve ser exigido: Amor.

O amor não se exige, e tive que aprender isso à força, quando bati de frente com o ínfimo amor-próprio que me restava. O amor não tem de ser controlado. Por mais que penses que podes, de fato, controlar os sentimentos de alguém, isso não passa de uma ilusão que criamos na nossa mente, para nos tranquilizarmos e, de alguma forma, termos menos medo do futuro que se segue. Não tens, em momento algum, o poder de interferir na privacidade da pessoa que amas, para ler as mensagens do telemóvel, de forma a “confirmar” suspeitas ou desconfianças. Quem és tu? Qual é o direito que tens, para pedir, a alguém que te dá o que quer e o que pode, mais amor? Pedir mais amor não é amor, mas é, por sua vez, falta dele. É também, falta de respeito por ti própria, pela tua mente e pelo teu espírito. É negares a lei natural da vida, acabando por te deixares levar, consequentemente, pela maior mania do ser humano: sobrepor-se ao outro, numa ação tão egoísta como voluntária.

Na vida todos sofremos, não te enganes ao pensar o contrário. Não penses, por isso, que cada vez que chorares de amor, estás a chorar com dor e insatisfação. Estás apenas a chorar porque amaste, e porque esse sentimento fez-te realmente feliz. Há quem não se deixe amar, com medo do resultado desse amor: achas que essa pessoa algum dia, vai-se sentir completa, ou feliz? Se não deixares o amor bater-te à porta, nunca irás encontrar a sua morada por mais que procures, porque o amor não é algo palpável, mas sim uma força da Natureza, que quando vem, muda-te tanto quanto te impulsiona a viver.

Não culpes o amor ou a pessoa amada, isso é simplesmente a saída mais fácil que encontras para o teu problema. Mas essa saída só vai levar-te a outro problema maior e, ciclicamente, esse problema que era primeiramente pequeno, piorará, somente porque tu deixaste que isso acontecesse. Posso então afirmar que a culpa é tua. Tudo porque deste tanto de ti, que te sentiste vazia quando te faltou a recompensa. Logo, deste tudo de ti não de forma involuntária, mas sim porque querias ser recompensada com o mesmo sentimento, pois no teu interior achavas-te tão importante que eras, sem dúvida, merecedora de tal. Posso então dizer-te que, sem sequer parares um segundo para refletir, fizeste o mesmo erro que eu, e foste lentamente apercebendo-te disso, à medida que leste este texto. De certa forma, identificaste-te tanto comigo que já não te sentes tão vazia.

Hoje, já não lhe peço minutos, nem horas, nem uma vida ao meu lado. Hoje, já não lhe peço nada. Estranhamente sinto-me mais viva, mas não o amo menos. Só que, de alguma forma, o amor que eu sentia dividiu-se: por um lado, amo-o tanto que daria qualquer coisa para vê-lo feliz, por outro, descobri que a única maneira de vê-lo realmente feliz era deixar de controlar cada passo seu. Era deixá-lo ir com o vento, e esperar que o mesmo ar trouxesse melhores dias para mim. Era virar a página mas nunca rasga-la, porque cada linha que eu escrevi por ele, foi plenamente sentida. Era vê-lo partir, lentamente, e sentir-me feliz pela minha própria evolução. Era vê-lo encontrar outra pessoa, para que ele pudesse ter aquilo que eu também tive: oportunidade para Amar.  

*Picture taken by me*

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