E hoje eu sei quem me faz bem, quem me faz mal, e quem não me faz falta nenhuma. Quem não merece pertencer à minha vida. Quem não fica feliz por eu estar feliz. Esses são os que não me fazem falta, mas não são os que me fazem mal. Tu fazes-me mal, e fazes-me falta ao mesmo tempo. Eu tremo quando vens falar comigo, tremo quando te sinto perto, quando sei que estás longe, quando sei que estás e és, e tens ou deves. Isso não me faz bem, mas faz-me falta: quer dizer que, de alguma maneira fria e dolorosa, estou viva. Que sinto, que choro na tua sombra, que quero ver-te e tocar-te, e saber que estás bem. E, à noite, quando todos cá em casa dormem, eu sinto que as minhas lágrimas são mais verdadeiras, porque são para ti: tu que nunca as vais saber, porque nunca as vais ver. Porque eu choro muito por não te ter, mas choraria mais se te tivesse: num rodopio de sentimentos. E prefiro viver neste silêncio, com uma máscara que esconde a solidão de alguém que ama disfarçadamente. Que ama, leste (engraçado como ainda acho que vais ler o que te escrevo, não é?) bem, querido. Porque nem tudo são rosas e porque escondes picos que magoam mais que facas no meu peito. Porque sabes que eu fiz tudo para te ter e para te manter comigo, fosse o tempo que fosse. Porque sabes que me sinto miséravel sem ti e sem o teu sorriso. Porque as tuas piadas são as melhores, por não terem piada nenhuma mas conseguirem pôr-nos a rir sem parar. Porque o teu corpo é mais quente que qualquer outro. Porque a tua alma é mais pura que todas as outras que conheço, talvez por sorrires quando estás feliz e chorares quando estás triste: porque não te escondes como eu. Porque és tudo aquilo que eu não sou e que me faz falta ser. És quem eu procurei e encontrei, e abdiquei por gostar mais do meu presente do que do meu passado. Porque és as pedras no meio do meu caminho e porque eu nunca as tiro de lá, só para saber que existes e que me afectas; tu és quem me faz tropeçar: mas também és quem me faz levantar depois das quedas. Porque tu és o antes e o depois, e matas-me a cada segundo que és o durante. Porque tu és o aclamado "trevo da sorte" mas dás um azar dos diabos. E... porque eu não mudaria nada. Faria tudo de novo. Lembraste de todas as quartas-feiras? Quem gosta faz de um dia de semana um sábado. Quem gosta tem a porta aberta para receber qualquer visita inesperada. Quem gosta apanha todos os comboios que eu apanhei. Quem gosta perde a vergonha mas nunca a vontade. Quem gosta protege e aconselha, mas nunca obriga a mudar. A mudança parte de cada um de nós. E obrigada por agradeceres, eu bem sei que sempre te disse que não havia nada para o qual devesses agradecer. Mas havia. Eu faria tudo de novo só para roçar os pés nos teus, para comer os teus cozinhados, para beijar a tua boca e saber que estou exatamente onde devia estar. Agradece por isso. Agradece por eu ter-te amado como nunca tinha amado ninguém. E desculpa. Perdoa-me por ter me vingado de ti e de todas as lágrimas que deitei nas imensas noites que me senti sozinha e desprotegida, quando soube que estavas frágil e que me querias. A vida é feita disto: é um ciclo de alegrias e desavenças. Só que tu alegravas-me tanto quanto me fazias subir paredes de tanto chorar.
Mas a vida não é só feita disso. A vida também é feita de momentos, certos ou errados. Tu foste a pessoa certa no momento errado. E só eu percebo o que escrevo, porque embora escreva para ti, guardarei sempre muito de mim para mim.
Às vezes precisamos de procurar por algo para sabermos que é exatamente disso que não precisamos para nós, pelo facto de nos fazer mais mal que bem. Eu procurei-te, para te abandonar, confesso. Mas orgulho-me. Porque eu procurei-te todos os dias enquanto pude, enquanto quiseste ser meu, e tu só soubeste ir abandonando a melhor coisa que te passou pelas mãos, que te aqueceu a alma, que te beijou o coração, que te deu chão e céu, asas para voar e pernas para andar. Obrigada e desculpa minha eterna saudade: fazemos disto vida; e a vida não é mais do que eu e tu, e um rodopio de sentimentos.
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