Que loucura que é sentir-me sozinha neste luar lisboeta, ligada para sempre a um aquecedor qualquer já velho como a minha alma. Sentir que me falta algo que me comprometa, que me faça cuidar do descuido que é ser ingrata contigo, quando mereces mais e melhor - clichés à parte. Não te sentir, talvez, é o que custa mais nestas noites de merda, onde nem o cobertor que a minha avó me ofereceu nos anos faz alguma diferença neste corpo doentio e frio, congelado pelo cheiro a mortalidade - ou falta dela. Estás-me a escapar, certamente. Tu e todas as conversas sérias ao final da tarde, interrompidas pelos beijos tontos e soltos que nos faziam rir desmedidamente, "que nem dois putos apaixonados". Tenho saudades de sentir os teus pés a aquecer os meus naquela cama minúscula (e tão gigante para nós), enquanto a chuva batia forte contra a janela do teu quarto e os teus amigos te ligavam de cinco em cinco minutos para saber onde raio te tinhas metido. Tavas metido comigo, azares da vida, sortes do inferno. Pobre de ti, que eu devia ter-te avisado que sou das pessoas mais complicadas que já existiram nesta vida e nas outras, que sou fácil de se amar, mas tão dificil de aguentar. Que hoje me apetece chocolate e amanhã sou diabética em estado crítico, nesta estranha confusão a que eu chamo Ana's Life. Que sou confusa por natureza e nem a natureza me confunde tanto como eu mesma. Que não me orgulho de nada do que te fiz, e detesto a ideia de não ter feito mais por ti. Que me arrependo, deve ser essa a palavra que oiço nesta mente turbolenta e atordoada. Que a vida vai ensinar-me muitas coisas... e uma delas é não magoar quem nos faz sorrir com um simples "bom dia". É regra - nesta o sistema não falha, quem falha somos nós, que nunca aplicamos o que é devido. "Se nos faz sorrir com pouco, é porque vai-nos completar em tudo", - meti em aspas porque algum maluco já deve ter escrito isto - e tu completaste, completas, completarás sempre um pouco mais do que é por mim merecido, mas tanto faz, já que os nossos corpos se desejam demasiado para aquilo que as nossas frágis mentes estão capazes de suportar.
Desculpa a minha ingenuidade, a minha inocência desenfreada, a minha falta de jeito com as palavras que não são escritas, mas faladas. São as piores, foda-se. Dores e dores de cabeça à pala das tantas e tantas conversas que já imaginei ter, que já me obriguei até a ter, e que, muito por causa da minha doce imaturidade dos dezassete, nunca tive. O meu silêncio exagera a cada palavra cheia de açúcar e mel que me proporcionavas. Aquela falta de comunicação da minha parte que te obrigava a falar demais de modo a sentires qualquer espécie de diálogo entre nós. Nunca houve, eu falo por mentes, como sempre fiz e espero não continuar a fazer. "Deita cá para fora", já dizia o outro do anúncio. Ai, se eu deitasse mesmo...
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